Não esqueçam os pobres

          Estamos no mês de setembro, mês da bíblia. Inicialmente denominado o Dia da Bíblia, 30 de setembro, e sucessivamente, Tríduo Bíblico, Semana Bíblica e, assim, pouco a pouco, setembro se tornou o Mês da Bíblia. O tema escolhido para estudo neste ano é a Carta aos Gálatas, com a inspiração bíblica: “Pois todos vós sois um só, em Cristo Jesus” (Gl 3, 28d). Segundo alguns biblistas são duas as colunas mestras imprescindíveis na Carta do apóstolo Paulo aos cristãos e cristãs da Galácia: “não esqueçam os pobres” (Gl 2, 10) e “sejam livres” (Gl 5, 13). No presente artigo, vamos refletir sobre a temática primeira, devido o contexto pandêmico e a realização do Grito do Excluídos.

          A Carta aos Gálatas nos convida ao compromisso radical com o Evangelho de Jesus e com a causa de todos escravizados da história. Exige que abracemos, pelo nosso modo de vida, um estilo simples e austero e optemos em batalhar ao lado dos empobrecidos na luta pela conquista de seus direitos essenciais: “terra, teto, trabalho com salário justo”, como afirma o Papa Francisco.

           “Não esqueçam os pobres!” Ao ler esta exortação do apóstolo Paulo aos Gálatas, recordo-me das últimas palavras do servo de Deus, Dom Luciano, ao seu irmão Luiz Fernando, no leito do hospital, antes de ser sedado: “Meu irmão, eu não sei se vou sair disso. Se não sair, se Deus me chamar, eu lhe peço: não abandone meus pobres”. O amor pelos pobres estava impresso no ser de dom Luciano. Quando alguém lhe dizia sobre a hipótese de está sendo enganado pelos que pediam algum auxílio, ele respondia com amorosidade: “Eu não julgo. Prefiro ser enganado a deixar de ajudar o pobre que realmente precisa”. Nunca deixou de mostrar o caminho da solidariedade ao próximo, fazendo sempre menção de que a ajuda não deve ser alardeada, deve ser feita por ato de amor, sem o desejo de gratidão, deve ser gratuita e na maior quantidade possível.

          Neste tempo de pandemia, devemos nos exercitar neste amor gratuito e universal. Na lógica do amor gratuito, somos chamados a amar a todos, mas dedicando-nos mais aos que estão em maior necessidade. É o exemplo da mãe em família: ama a todos os filhos e filhas, mas devota-se mais aos pequeninos e aos que têm alguma deficiência. Essa atenção prioritária aos mais pobres caracterizou “as primeiras comunidades cristãs, empenhadas em que todos tivessem o necessário, colocando até os recursos em comum” (cf. At 4, 32-37). As palavras de São João Paulo II iluminam esta atitude de ir aos mais necessitados, afirmando que “a predileção pelos últimos é a garantia do amor a todos”. Nesse amor aos últimos se manifesta a pureza da gratuidade. Em Lc 14,13, vemos Jesus formar os discípulos para a prática da gratuidade: “quando deres uma ceia, convida o pobre, o coxo, o cego, porque eles não podem te convidar”.

          Além da Sagrada Escritura e do testemunho de dom Luciano, devemos observar os inúmeros ensinamentos do querido papa Francisco. Ele nos incentiva permanentemente a trabalharmos nas periferias e priorizarmos os carentes em nossa ação pastoral. A própria escolha do nome papal em homenagem a São Francisco de Assis, acolhendo o pedido do amigo dom Cláudio Hummes, que “não se esqueça dos pobres”, mostra a opção do seu coração em cuidar dos “pequeninos do Reino”.

          Não deixemos que o vírus da indiferença nos impeça de escutar o clamor sempre atual da Carta aos Gálatas: “Não esqueçam os pobres”. E, à semelhança do servo de Deus, dom Luciano, possamos repetir diuturnamente aos mais carentes e fragilizados: “Em que posso ajudar?”

Pe. José Afonso de Lemos

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