A vacina para o coração

          Estamos vivenciando o processo de vacinação contra a COVID 19. A vacina abre certamente um lampejo de esperança, que venha a reverter a crise sanitária que nos flagela a tempo. Para nós, cristãos, nada mais certo que vacinarmos, pois a vida, dom precioso de Deus, deve ser preservada em todas as suas etapas e manifestações. Não podemos entrar nesta lógica “negacionista” que, infelizmente, se instalou em muitos corações. O livro do Eclesiástico enfatiza que Deus se serve do médico, dos remédios e da ciência para curar (Eclo 38, 1-15).

          Os profissionais da saúde, os pesquisadores, fazem parte da Providência Divina e exultam o dom da inteligência com o qual o Criador nos brindou para sermos cuidadores da Terra, nossa casa comum. No livro do Eclesiástico lemos este conselho: “Filho, se você ficar doente, não seja descuidado. Suplique ao Senhor, e ele o curará. E dê lugar para o médico, pois também a ele o Senhor o criou. Não o afaste, porque você precisa dele“(Eclo 38, 8.12). Vacinar-se é um ato de amor e de gratidão para com Deus e um dever de responsabilidade e cuidado para com nossos irmãos. Não podemos ser egocêntricos, fechados em nós mesmos. Para podermos sair desta crise humanitária, devemos crescer na empatia e no altruísmo. O papa Francisco ressalta que devemos vacinar o nosso coração. Na homilia da missa da Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, realizada no dia 01 de janeiro de 2021, o papa Francisco ressalta: “Neste ano, enquanto aguardamos um renascimento e novos tratamentos, não negligenciemos o cuidado. Com efeito, além da vacina para o corpo, é necessária a vacina para o coração: é o cuidado. Será um bom ano se cuidarmos dos outros, como Nossa Senhora faz conosco. Disse ainda: “devemos pedir a graça de encontrar tempo para Deus e para o próximo: para quem está só, para quem sofre, para quem precisa de escuta e atenção“.

          Assim, como o médico, através da medicina, ativa em nós o processo de cura, a empatia nos coloca em lugar do outro compreendendo cordialmente os sentimentos e percepções dos nossos irmãos. Quando o vírus da indiferença passa a residir em nosso coração, cria-se uma sociedade patológica que não sente compaixão com a dor dos irmãos. Como é importante manter limpo o coração! Devemos educar o coração para o cuidado das pessoas, das coisas, do mundo e da criação. Pouco adianta conhecer várias pessoas e muitas coisas, se não cuidarmos delas. É preciso abandonar as patologias do narcisismo, do poder e da dominação para construirmos “a civilização da empatia e da ternura”. O que nos faz evoluir como espécie sempre será a solidariedade e a mútua cooperação. Nosso Deus é harmonia e paz, e para alcançar a felicidade e a comunhão com Ele, temos que converter-nos a esta realidade existencial: “todos somos irmãos”, como nos ensina o sábio Papa Francisco.

          Não existe vacina que produza em nós os anticorpos da empatia e da solidariedade, mas descobrimos no interior do nosso coração e na nossa consciência o desejo de comunhão e fraternidade. Ao sermos vacinados optemos por uma nova vida, um novo estilo de ser e pensar, uma parceria e aliança de amor, ternura e cuidado para com todas as pessoas e criaturas, fazendo da Terra uma morada de paz e saúde plena.

Pe. José Afonso de Lemos

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