Neste mês essencialmente mariano, eu gostaria de dirigir uma palavra às pessoas impactadas pela pandemia, sobretudo aquelas que foram infectadas e ou perderam entes queridos. Vivemos um tempo de forte apreensão e desalento. Muitas pessoas que perderam seus familiares e amigos encontram-se com a fé abalada e, em decorrência disso, estão desenvolvendo doenças como a depressão.
Neste cenário sombrio que envolve a todos Maria se faz presente, de maneira discreta, como nossa mãe intercessora junto a Jesus Cristo, nosso Salvador. Maria é capaz de consolar com amor maternal aqueles que a invocam com fé. Assim como fez junto aos discípulos no dia de Pentecostes, ela se revela como a mãe da esperança e da consolação junto aos que se encontram com medo.
A carta aos Hebreus compara esperança a uma âncora: “A esperança é como âncora firme e segura de nossa vida. Ela penetra até o outro lado da cortina do Santuário” (Hb 6,19). Nesta belíssima imagem podemos acrescentar a vela. Se a âncora é o que dá a estabilidade ao barco e mantém “ancorado” no balanço do mar, a vela é o que faz caminhar e avançar sobre as águas. A esperança é realmente como uma vela; ela recolhe o vento do Espírito Santo e o transforma em uma força motriz que impulsiona o barco, conforme a necessidade, para o mar ou para a terra. Maria em todos os momentos de sua vida deixou-se impulsionar por este sopro divino, por isso a chamamos de “Templo do Espírito Santo”.
O apóstolo Paulo na Carta aos Romanos explicita seu grande desejo: “Que o Deus da esperança os encha de toda alegria e paz, por sua confiança nele, para que vocês transbordem de esperança, pelo poder do Espírito Santo” (Rm 15,13). A expressão “Deus da esperança” não significa apenas que Deus é o objeto de nossa esperança, Aquele que um dia esperamos alcançar na vida eterna; quer dizer também que Deus é aquele que agora nos faz esperar, mais ainda, nos torna “alegres na esperança” (Rm 12,12). Os cristãos devem permanecer felizes enquanto esperam, e não apenas esperar para ser feliz. É a alegria de esperar e não esperar para ter alegria. As pessoas precisam de esperança para viver e precisam do Espírito Santo para esperar, à semelhança de Maria. São Paulo atribui ao Espírito Santo a capacidade de nos fazer “abundantes na esperança”. Abundar na esperança significa não se desencorajar jamais; significa “esperar contra toda a esperança” (Rm 4,18), ou seja, esperar quando toda a razão humana não tem motivo para esperar, como foi para Abraão quando Deus lhe pediu para sacrificar seu único filho, Isaac, e como foi ainda para a Virgem Maria sob a cruz de Jesus.
O Espírito Santo não nos torna capazes só de esperar, mas também de ser semeadores de esperança. Como Jesus Cristo, e graças a Ele, nos tornamos “paráclitos”, ou seja, consoladores e defensores dos irmãos, semeadores de esperança. Um cristão não pode semear amargura, perplexidade, pessimismo, e quem faz isso não é um autêntico discípulo de Jesus Cristo. À semelhança da Virgem Maria, devemos semear o óleo da consolação e da esperança, o perfume da alegria e não o vinagre de amargura e desesperança.
No contexto do ciclo pascal abramos o nosso coração a fim de que o Senhor ressuscitado nos capacite para a missão, com Maria, a Mãe da Igreja e da humanidade. E o dom do Espírito Santo nos faça semeadores de consolação e esperança nos corações de tantos irmãos que sofrem os impactos desta pandemia, sobretudo os mais necessitados e descartados pela sociedade.
Pe. José Afonso de Lemos