Todos somos chamados por Deus para viver uma missão. As lideranças pastorais, porém, recebem uma responsabilidade maior, uma vocação que mistura qualidades humanas e divinas, um trabalho harmonioso entre homem e Deus que se destina a servir e a construir o Reino de justiça e paz na Igreja e na sociedade. Contudo, diante de tanta responsabilidade perante sua pastoral e comunidade, até mesmo os líderes enfrentam momentos de desânimo e tristeza em suas caminhadas.
A pandemia trouxe novos desafios para o trabalho pastoral. Todos os métodos, eventos e estratégias que até então eram nossos portos seguros, foram nos tirado do dia para noite, sem aviso prévio. Confusos, muitos se perguntam: como ficam nossas atividades, reuniões, assembleias e encontros preparados com tanto carinho? Como ficam nossas pastorais e movimentos? O desânimo e a desesperança começam a tomar conta de muitas pessoas, dentre elas algumas lideranças pastorais. Desânimo de muitos justamente pela falta do contato físico com os amigos e demais lideranças, pela falta do encontro presencial.
Envoltos por este cenário sombrio perguntamos: O que podemos fazer para manter o ânimo das nossas lideranças? Diante destas e de tantas outras situações que se apresentam em tempos de pandemia, muito mais que apresentar respostas prontas e acabadas, nós devemos suscitar algumas provocações em vista da ação evangelizadora e da prática pastoral.
Um primeiro aspecto a ser considerado: é preciso “reinventar” nossas práticas pastorais. Necessitamos repensar nossas metodologias, estratégias e linguagens. O Papa Francisco nos motiva a todo instante a buscar uma pastoral mais ampla, flexível e inclusiva.
Segundo ponto: retomar e intensificar o trabalho pastoral à luz das primeiras comunidades cristãs (cf. At 2, 42-47). Conforme análises de alguns teólogos, o trabalho pastoral acontecerá principalmente nos pequenos grupos, nas pequenas comunidades. Nesses dias de pandemia, de dificuldades e de noites escuras, Deus nos desafia a evangelizar, com sabedoria, utilizando os meios que temos ao nosso alcance. Não precisamos promover ações extraordinárias, mas agir na concretude de nosso cotidiano.
Terceiro aspecto: fazer de nossas comunidades “casas da caridade”. A questão da desigualdade social, que está ainda mais acentuada, se reflete também em nossas famílias e lideranças pastorais. Será necessário que busquemos alternativas para auxiliar nestas situações de vulnerabilidade com redes de apoio e na luta pelas políticas públicas de inclusão. Neste tempo de pandemia, em que somos obrigados a evitar aglomeração e que os sacramentos foram adiados, a catequese, quando não virtual, nem pode ser transmitida, resta-nos evangelizar, assumir nossa missão pela caridade.
Quarto elemento: ser Igreja acolhedora. Devemos também nos dedicar ao serviço da escuta e do acolhimento, intensificando a mística do cuidado e a empatia com nossas lideranças pastorais. É hora de resgate, de contatos pessoais, de iniciativas que incentivem, que animem, que reacendam a esperança nos corações e que nos ajudem a tirar desta pandemia lições para uma mudança no estilo de vida e de nossas relações.
Gostaria de concluir esta breve reflexão ressaltando a força da Eucaristia na vida das lideranças que se dedicam à missão. Santo Agostinho chamava o Pão Eucarístico de o “pão dos fortes”. Assim sendo, fortalecidos pelo “Pão da Vida” (Jo 6, 48), vamos caminhar juntos, erguer pontes entre as pessoas, pastorais e movimentos, discernindo aquilo que é inspiração de Deus para construirmos um tempo novo em que cada agente de pastoral se reconheça como sujeito e vislumbre novos horizontes. “Levanta-te e come, pois do contrário o caminho te será longo demais” (cf. 1 Rs 19,7).
Pe. José Afonso de Lemos