Já estamos no mês de julho. Este mês é muito especial para a nossa comunidade eclesial, pois celebramos a festa de nossa paróquia, fazendo memória à data de sua fundação. “Com São Silvestre, viver a fé, em família, sustentados pela Palavra e firmes na caridade“, este é o tema escolhido para nossa festa. Em decorrência da pandemia vamos celebrar nossas festividades, porém, respeitando as orientações dos profissionais da saúde e o decreto de nossa Arquidiocese. É uma oportunidade de revalorizarmos outros momentos de oração, sobretudo em torno da Palavra de Deus e da oração à mesa. É um tempo de retomarmos a vida de fé em pequenos grupos, sobretudo, em nossas famílias, tornando-as “igrejas domésticas”, como acontecia nas primeiras comunidades cristãs.
A pandemia tem possibilitado à Igreja formar autênticos discípulos missionários. Para formar discípulos missionários, é urgente aproximar mais as pessoas e as comunidades da leitura orante da Palavra de Deus. Não basta ler ou estudar a Sagrada Escritura, pois a “inteligência das Escrituras exige, ainda mais do que o estudo, a intimidade com Cristo e a oração” (Verbum Domini, n.86). Além disso, é indispensável uma leitura orante comunitária, que evite “o risco de uma abordagem individualista, tendo presente que a Palavra de Deus nos é dada precisamente para construir comunhão, para nos unir na Verdade no nosso caminho para Deus. Sendo uma Palavra que se dirige a cada um pessoalmente, é também uma Palavra que constrói comunidade, que constrói a Igreja. Por isso, o texto sagrado deve ser abordado na comunhão eclesial” (VD, n.86). Neste sentido, vale destacar o belíssimo trabalho realizado pela nossa Arquidiocese através dos grupos de reflexão.
O papa Francisco tem enfatizado a importância da leitura da Palavra de Deus em família. O contato intensivo, vivencial e orante com a Palavra de Deus confere à reunião em “família” um caráter de formação discipular. O importante é o encontro com a Palavra que muda a vida e dá sentido ao ser e agir de quem é cristão (ã). O Evangelho passa a ser o critério decisivo para o discernimento em vista da vivência cristã. Enquanto redigia este texto, lembrei-me das palavras sábias de Irmã Carminha, Salesiana: “Quanto mais eu conheço Jesus Cristo, mais eu me apaixono por ele“.
Na fé cristã, a espiritualidade está centrada na capacidade de amar a Deus e ao próximo. “Se alguém disser: “Amo a Deus”, mas odeia o seu irmão, é um mentiroso: pois quem não ama seu irmão, a quem vê, a Deus, a quem não vê, não poderá amar” (1 Jo 4, 20). Rezar e servir são realidades indispensáveis para o discípulo de Jesus Cristo.
Sem oração não existe vida cristã autêntica. Sem caridade, a oração não pode ser considerada cristã. Quando se contempla Deus, educa-se o olhar para ver as necessidades do outro. Um padre de nossa Arquidiocese, a quem admiro muito, diz com frequência: “Devemos ser devotos de São Raimundo, um olho no céu e outro no mundo“. Somente contemplando o mundo com os olhos de Deus, é possível perceber e acolher o grito que brota das várias faces da pobreza.
É dever sagrado ajudar os que mais sofrem as consequências da pandemia através da caridade, expressão concreta de nossa fé. Lembremo-nos sempre que as mesmas mãos que elevamos aos céus são as que devem estender-se aos irmãos que precisam de nós. Deus nos livre do vírus da indiferença que nos impede de enxergar os sofrimentos dos irmãos e irmãs que se encontram à nossa volta. Que em nosso cotidiano possamos viver a súplica que fazemos ao Pai na liturgia: “Dai-nos olhos para ver as necessidades e os sofrimentos dos nossos irmãos e irmãs; inspirai-nos palavras e ações para confortar os desanimados e oprimidos; fazei que, a exemplo de Cristo, e seguindo o seu mandamento, nos empenhemos lealmente no serviço a eles” (Oração Eucarística VI-D: Jesus que passa fazendo o bem).
Possamos “Com São Silvestre, viver a fé, em família, sustentados pela Palavra e firmes na caridade”.
Pe. José Afonso de Lemos